em ruptura.

6.1.08

eram três e estavam encostadas ao muro da antiga fábrica. pareciam observar a zona, mas sem que algumas vez os seus olhares me tivessem cruzado. calor e cheiro a poeira era o que por ali existia e, à medida que me ia aproximando, sentia que também tinha que aproveitar aquela sombra. tirei um cigarro pelo caminho e acendi-o sem grandes pressas. sem que o fraco vento perturbasse o meu acto. rapidamente me aproximei daqueles corpos que, num primeiro olhar, pareciam andar em viagem já há algum tempo. perguntei-lhes de onde vinham, o que faziam ali no meio do nada. responderam-me simultaneamente com um sorriso coreográfico e mudo. uma delas segura convictamente um saco de pegas estilo Camel, levanta uma nuvem de pó e arrasta-o a poucos centímetros das marcas que as botas deixam no seu caminho. não sei para onde vai. perguntei às que ficaram se precisavam de ajuda, mas nada. no tempo que ali estivemos, sem formalidades verbais, tive a certeza que nunca as vira antes. foi o tempo suficiente para que o tabaco em brasa tocasse o filtro. uma das duas, largou um segundo sorriso forte, mas desta vez a sua face descai em direcção ao solo e as suas costas escorregam pela parede. já no chão, e com toda a calma do mundo, tira uma garrafa de uma das malas, senta-se e dá dois ou três longos goles. depois do meu calcanhar abafar a beata na poeira, estica-me o braço e quebra o silêncio com o agitar da bebida dentro do vidro. em voz baixa diz, não está fresco, mas... mesmo sem saber o que se bebia ali naquele dia, baixei-me e deixei que a minha mão lhe tocasse. apenas para segurar o liquido.

1

Anónimo

o que elas queriam sei eu.

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